domingo, 4 de dezembro de 2016

História Contemporânea I - Resumo Especial para AV2






O mundo entre 1760 e 1789 se configura num cenário em transformação. Dois são seus grandes fenômenos cujas repercussões se configurariam como elementos de uma longa duração histórica. No primeiro, o desencadear da Revolução Industrial e, no segundo, a revolução burguesa na França. É preciso lembrar as características da Europa nesse período. Enquanto a Inglaterra reunia as condições necessárias para o salto industrial (estabilidade política, prevalência da burguesia e da nobreza laboriosa, o protestantismo calvinista como justificador ideológico, o cercamento de terras, a consolidada estrutura comercial, a integração territorial com ferrovias, a abundância de matérias primas, um mercado consumidor interno e externo consolidados, a inventividade, a abundância de mão-de-obra disponível e os investimentos provenientes do processo de acumulação primitiva do capital) a França e a quase totalidade do continente europeu eram mundo ainda rurais, cujos laços feudais ainda se faziam sentir com maior ou menor intensidade no cotidiano e nas estruturas de poder/propriedade.

De fato, a Revolução industrial trouxe a luz uma série de fatos até então inéditos. Como conseqüência do seu processo e de suas fases, temos o estabelecimento de novas relações de produção e de trabalho. O homem não estaria mais preso aos laços que determinavam sua permanência à terra ou mesmo sob as ordens e ao juramento a um senhor. Teria liberdade de dispor de suas forças. Entretanto, via-se reduzido a buscar o atendimento às suas necessidades mediante o trabalho, só que não mais como proprietário de meios e do tempo, mas como vendedor de sua força.

Desse modo, observamos um fenômeno interessante. O trabalho passa a ter um valor que de longe sobrepuja as antigas concepções da produção ocasional ou do trabalhador que apenas trocava serviços ou poucos produtos por uma casa e teto. Agora falamos de um operário cuja produção vai além do necessário para sua manutenção, ainda que por ela receba uma parte para seu atendimento.

Obviamente que uma mudança dessa envergadura trouxe impactos significativos. Para um universo cuja produção artesanal visava a manutenção simples da vida, a ausência dos meios e a implantação de um novo regime de trabalho/produção, ocasiona o desmoronamento das poucas coisas que davam ao mundo do trabalhador reprodutividade estabilidade. As condições de vida se deterioram rapidamente e em análises acuradas como as de Engels podemos perceber o quanto esse novo proletariado sofria com as longas jornadas, os salários baixos e as moradias precárias. A sobrevivência era uma zona limítrofe para muitos. Desse modo, a expansão da indústria vai se dando conforme as convulsões sociais no continente europeu assim o permitia, cuja guerra permanente que atravessará o final do século XVIII até os dias atuais será o da busca por mercados consumidores.

As transformações continuam sua marcha e é importante identificarmos que o mundo, gradativamente, vai conhecendo novas fontes de energia, novas máquinas e uma miríade de produtos destinados ao consumo. Novos tempos cuja tecnologia se faz uma realidade irrefreável. Entretanto, não podemos dizer que esse processo fora isento de conflitos e contradições. Ao contrário, as condições desiguais a que estavam submetidos os trabalhadores ensejaram uma gama de movimentos de contestação e de organização da classe trabalhadora, além de um conjunto igualmente diverso de concepções teóricas que formaria um espectro amplo que ia desde uma organização comunal, federalista e internacionalista de trabalhadores à supressão negociada dos problemas pontuais que mais afligiam os trabalhadores, de modo harmônico com seus empregadores.

Nem todas as inovações pertenceram propriamente ao apogeu da Revolução Industrial e sim a sua primeira fase. Temos por exemplo o desenvolvimento das estradas de ferro com o advento da locomotiva a vapor, a tecnologia do aço e a expansão da comunicação por meio do telégrafo, todas as criações anteriores a 1860. Entretanto, 

Alguns processos estão intimamente interligados no século XIX, pois fazem parte de contextos mais amplos. Assim podemos qualificar toda a onda de levantes iniciados a partir das ações de Paris em 1848, onde as camadas populares se insurgem frente ao cenário de crise extrema e ineficiência dos governos absolutos. O resultado desse processo é, por um lado, o fortalecimento da posição burguesa, seus referentes e o progressivo desmanche dos resquícios econômicos e políticos do Antigo Regime. Isso não pode ser explicado ainda como uma luta de classes. Mesmo indícios como o lançamento do Manifesto do Partido Comunista, por Marx no mesmo período, não significa que estejamos diante de um movimento organizado da massa proletária. Era uma revolta generalizada entre as camadas desfavorecidas e as ricas. Mas sem ainda a consciência de classe em si/para si. Nesse bojo de transformações note-se, contudo, o medo de que essas revoltas se direcionassem para um efetivo processo revolucionário. 

Isso não impediu a crítica ao sistema econômico e político que aos poucos se consolidava. Prova disso são os movimentos cartista e ludista e o conjunto de críticas e proposições dos chamados "socialistas utópicos", que não apenas criticavam a exploração excessiva e as condições de miserabilidade da população, como também pensavam que esses problemas poderiam ser resolvidos mediante a pactuação, nesse sistema, entre empregados e empregadores, estabelecendo-se um equilíbrio advindo de uma ética relacional maior e comum a todos. Diferente visão terão os marxistas e anarquistas (mutualistas), que acreditam que o que se impõe é a luta entre classes a ser superada por um processo revolucionário.

Outros eventos lembrados nesse contexto são as Unificações Alemã e Italiana. Ambas modificam não apenas o cenário geopolítico mas também o econômico e é importante salientar o papel que o novo sistema tributário desempenhou, tanto para o desenvolvimento, quanto para os fluxos migratórios de dissidentes do regime. Como resultado dessas ações, temos a célebre Guerra Franco Prussiana, na qual abriga a Comuna de Paris como elemento de resistência tanto ao governo provisório francês quanto ao invasor prussiano. Os comunardos de Paris foram duramente combatidos e massacrados, onde notamos a posterior reforma do Barão de Haussmann, responsável pela reorganização da cidade nos moldes higienistas e estabelecendo um corte social em sua ocupação, livrando-se das ruelas, cortiços e das camadas mais populares.

No contexto da expansão imperialista no século XIX temos alguns casos exemplares que ilustram bem o processo de dominação. Assim, observamos ações que vão desde a dominação direta por meio do controle político em países da Ásia, como a Índia e a China, a dominação territorial como a realizada no continente africano. Um bom reflexo desse segundo aspecto pode ser encontrado nos "Boeres" cuja nomenclatura é atribuídas ingleses, colonizadores que buscavam metais preciosos, mas que em verdade denominavam originalmente os holandeses qe ocupavam a região do Traansvaal e Orange, derrotados pelos ingleses que desejavam expandir seu domínio e exploração na região. Essa ação imperialista deixou como legado não apenas o atraso estrutural, mas profundos problemas étnicos, tanto os referentes aos conflitos internos quanto ao regime racista que se estabeleceria nos século seguinte.

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