Objetivamos compreender as experiências consideradas pela historiografia como as Altas Culturas Pré-Colombianas, numa perspectiva que reconhece tanto os valores quanto as contradições dessa mesma sociedade, desmistificando a visão do colonizador como portador da civilização. Num segundo momento analisamos em especial a sociedade maia, trabalhando com a localização e a influência dos fatores geográficos e as características de sua organização política, econômica, religiosa e cultural. Vimos a intensa relação entre as culturas maia e asteca, sobretudo pelo compartilhamento das heranças olmecas, bem como pelo compartilhamento de referentes e espaços comuns, como a cidade de Teotihuacan.
Observamos a estratificação da sociedade maia, centrada na figura do halac-unic, tendo nas camadas abaixo os sacerdotes. nobreza, guerreiros, artesãos até chegar aos simples camponeses e escravos. A ostentação dos adornos mostrava na prática essa estratificação. Os maias desenvolveram um complexo esquema de escrita glífica e dois calendários, um lunar e outro solar ambos com funções ritualísticas, marcando o final de um ciclo e o início de outro em seus encontros a cada 52 anos. A organização política assemelha-se mais a um conjunto de cidades-estados cuja ascendência de determinada cidade estabelecia uma relação de domínio e subordinação.
Os mais ocupavam um território majoritariamente pantanoso, nas áreas de florestas, o que levou a engenhosas construções de cidades elevadas (acrópoles) e de um complexo sistema de canais de irrigação. O intenso fluxo promovido pela religião e pelo comércio auxiliaram o florescer de períodos marcantes, como o de Miraflores, cujas artes e construções líticas se destacam. Analisamos a questão dos sacrifícios humanos e sua função ritualística, bem como da importância da religiosidade como construtora de sentidos e das distorções a respeito da cultura maia na contemporaneidade.
Já com relação a expensão marítima ibérica, iniciamos nossa análise contextualizando o processo da Reconquista, na qual os reinos de Portugal e Espanha se reestruturam como exemplos pioneiros de organização estatal de caráter moderno. A partir de então era preciso também fortalecer a premissa fundamental do mercantilismo, a acumulação de metais como estratégia de fortalecimento político e econômico. E isso se daria de duas maneiras, a manutenção de uma balança comercial favorável e a afluência direta de metais. Ambos ganhavam melhores contornos quando se possuía rotas e pontos de comércio exclusivos e territórios conquistados dos quais se pode retirar matérias-primas e metais, além de estabelecer laços de exclusividade assimétrica no comércio. E esse era justamente o papel desempenhado pelas colônias.
Desse modo, os ibéricos são impelidos ao mar, em busca dessa consolidação. No caso português temos a continuidade do investimento já realizado na costa africana, culminando com sua transposição ao sul e a fixação de uma rota comercial que garantia bons pontos não apenas neste continente, mas também no oriente e na Ásia. Já a Espanha vai creditar, num investimento de relativa credibilidade, sua tentativa nas mãos de Cristóvão Colombo. Colombo desejava alcançar o oriente, mais especificamente o grande kanato chinês, ao qual acreditava transcender os escritos de Marco Polo e submeter a autoridade espanhola e aos dogmas cristãos, o povo e o governante daquele local. E de quebra, não faltaria o ouro que de modo lendário cobria as ruas e telhados do eldorado oriental, suficiente até para os planos de Colombo de financiar a retomada de Jerusalém.
Entretanto, a ideia era correta hipoteticamente, mostrando a sua realidade concreta quando se percebe que, na verdade, aquele mundo ainda pouco civilizado, não passava de uma nova terra. Colombo e a coroa espanhola começará a estabelecer suas governadorias nas Antilhas. É necessário esclarecer a natureza do expansionismo. A primeira caracterização é a de que se trata de um empreendimento misto, onde se fundem a autoridade e lastro da Coroa, investimentos particulares e a fé cristã. Desse modo, com a descoberta da porção continental, inicia-se a fase dos conquistadores, com os Adelantados, estabelecendo a autoridade espanhola sobre os povos submetidos e, obviamente, recebendo em troca as benesses soba forma de terras ou permissões para comércio. Os casos mais marcantes são o do declínio asteca nas mãos de Cortez e o do império incaico sob o jugo de Pizarro.
A partir daí, progressivamente e em função das descobertas das jazidas de ouro, prata e pedras preciosas, o governo espanhol vai substituindo os adelantados por uma complexa rede burocrática, concentrando sua autoridade na Metrópole e criando estruturas de poder coloniais que a coloquem sob esse controle. Assim, até mesmo os índios serão reorganizados nos pueblos e sua realidade drasticamente alterada pela lógica mercantil.
Por fim, comentamos a respeito dos mecanismos da conquista colonial, propostos por R. Romano. Com relação a cruz, podemos caracterizar pela aculturação dos povos nativos, desmontando seu sistema de crenças e, por conseguinte, suas formas de compreender e agir sobre o mundo, em função do paradigma cristão de fé e comportamento. a destruição dos referentes foi uma estratégia fundamental pois dilui a resistência pelo desmonte de um mundo que outrora havia sentido e práticas próprias de conservação. Além disso, também é importante salientarmos o quanto os sincretismos podem ser entendidos como estratégias de resistência, de sobrevivência, influenciando sobremaneira a constituição social do mundo colonial em construção. A fome foi derivada diretamente da desarticulação do sistema produtivo indígena.
Ainda que os espanhóis conservassem estrategicamente as modalidades de recrutamento, como a mita e a encomienda, a racionalidade da empresa extrativista enseja a desorganização do tempo e do espaço produtivo, bem como da circulação de bens nos mercados e pela distribuição outrora feita pelo estado indígena. Nos pueblos, a tendência ao desabastecimento é completada pelo endividamento crônico das tiendas de raya, cujos proprietários exploravam sobremaneira a miserabilidade crescente. Por fim, temos a espada, caracterizada pelo uso assimétrico da força. Esse elemento se materializa tanto pela superioridade em tecnologia quanto pela violência superlativa, que garantia a submissão pelo medo. Nesse aspecto, é também comum o uso de outras tribos rivais nos processos de conquista, submetendo sob controle uma quantidade considerável de braços.
Claro que a diferença de contingentes não se compensava apenas nas questões tecnológicas pura e simplesmente. Havia a questão das rivalidades entre as tribos, o que facilitava o estabelecimento de alianças e, por conseguinte, do domínio. Um exemplo claro desse processo diz respeito a Mita. Instituída pelos povos incas como uma prestação de serviço compulsória ao soberano, essa alternativa de arregimentação de mão-de-obra foi adaptada e amplamente utilizada pelos espanhóis, que apenas fizeram a troca da figura do novo senhor. Desse modo, as minas do Potosi rechearam-se de índios dentro de uma nova lógica, a da extração de quanto ouro e prata fosse possível. A dominação estendeu-se propriamente às culturas intermediárias e a grandes civilizações como os astecas e incas. No caso maia, suas cidades já se encontravam desarticuladas, funcionando autonomamente, ora sob a
influência asteca, ora como resquício do que fora um dia o grande império maia. Cabe aqui um adendo.As cidades maias possuíam uma arquitetura complexa. Não raro eram desenhadas a partir de acrópoles (partes artificialmente construídas de modo mais alto) onde ficavam os palácios e tempos e de onde saiam as estradas pavimentadas e as estruturas de escoamento e captação de águas, possibilitando ao longo desse trajeto, o estabelecimento dos núcleos populacionais.
A sociedade colonial era marcadamente estratificada. O controle da administração, bem como a posse dos maiores cargos e dignidades ficavam para os reinóis, chamados "chapetones". Os "espanhóis da América", chamados criollos, formaram ao longo do tempo uma camada poderosa e cada vez mais capilarizada a partir de relações clientelistas com a população. Com o tempo, foram estabelecendo seus domínios nas áreas do comércio e da exploração agrária, sendo uma camada mais permeável aos valores iluministas, tendo em vista que os mesmos advogavam contra os privilégios e restrições que afetavam diretamente seus negócios e suas perspectivas, em favor das elites metropolitanas, na Espanha e nas Américas. É claro que esse quadro gerou grande fricção entre essas duas principais camadas da pirâmide social colonial, com o domínio dos altos postos pelos chapetones e dos cabildos, pelos criollos. O ponto máximo de rompimento se dá em função de acontecimentos exógenos que contribuíram decisivamente para o processo de independência das colônias espanholas nas Américas. Ela se deu no tempo em que o bonapartismo estava em franca expansão, conquistando o trono espanhol e abrindo mais uma linha de frente contra a Inglaterra. Após o decreto do Bloqueio Continental, a situação se torna mais acirrada, com a marinha de guerra inglesa impossibilitando o contato entre Espanha e seus territórios. A consequência foi o enfraquecimento de laços e o empoderamento dos movimentos de libertação, encabeçados pelas elites
criollas.
Mesmo após a restauração de Fernando ao trono e do combate ostensivo aos focos revolucionários, não havia mais como retroagir ao domínio de outrora. Destacam-se nesse processo os "libertadores da América", dentre os quais figura como baluarte Simon Bolivar. Bolivar acreditava na possibilidade de se estabelecer um estado articulado, forte, coeso, sob a bandeira do pan-americanismo. Do mesmo modo, essas novas nações deveria surgir livres e capazes de autodeterminar-se tanto politica quanto economicamente. Acreditava na democracia, na separação entre os poderes temporal e religioso e na necessidade de se constituir espaços de convergência, como congressos e conferências. Assim, temos um exemplo do como as ideias iluministas e os ideais burgueses penetraram nas elites locais nos séculos XVIII e XIX nas Américas.